Sonhos sombrios

Os sonhos nada mais é que nossa fiel esperança de alcançar ao auge do nosso prazer.
Muitas vezes inalcançáveis, mas mesmo que somos cientes dos nossos limites, ainda teimamos em sonhar imaginando como seria se tudo fosse mais fácil. A vida passa e logo vem à morte, a tão temida morte.
Todos têm desejos a conseguir, sonhos a realizar. Até mesmo as mais frias mentes perversas, talvez seja as que mais vagam na imensidão dos desejos impossíveis.
Estava lá um garoto que conheci há muitos anos, quando nós dois eram mesmo crianças de jogar bafo de figurinhas, deitado sobre o chão gelado duma noite fria, e como a noite seu corpo também estava gelado e sem pulsação. Foram dos balaços no peito que causou todo aquele furor. Duas frias balas recheadas de pólvoras que invadiram sua pele atingindo o lado esquerdo do seu peito sem chance de sobrevivência. Seu corpo frágil e franzino não era inatingível como talvez pensasse quando estava no auto da sua negra carreira vendendo substancias ilegais. Substancias essas que causava dor e sofrimento para seus usuários.
Sofrimento a uma criança de três anos que por conseqüências da sua indisciplinada mãe, sofrendo uma enorme covardia levando um tiro em sua cabecinha. Três anos de idade, indefeso e mal sabia expressar os seus sentimentos. Pouco mais que mil dias vividos apenas. Salva por um milagre, um milagre DIVINO. Levando em consideração que a bala atravessou seu crânio se alojando pouco acima da nuca, foi realmente um milagre.
Ocorrido amedrontou muitos curitibanos. Era mais um nome que ficava famoso pela sua frieza em relação à vida, em relação aos seus semelhantes, na busca de poder. Seria esse o sonho daquele garoto que conheci ainda quando menino? Poder?
Aquele garotinho franzino passou a espantar muitos moradores do pacato bairro onde morávamos, ficou afamado, assim como todos os antecessores que entraram para o tráfico, afim de dinheiro fácil.
E como seus antecessores, mas desta vez vi com meus próprios olhos. Primeiro no chão frio duma rua sem saída, e no dia seguinte, dentro do caixão.
Estava lá de terno e gravata. Imóvel.
Suas narinas já não precisava mais buscar o ar. Seus olhos não precisava mais abrir. Seu cérebro estava morte e não precisava mais sonhar.
Lá se foi aquele garoto miúdo que quando tinha seus sete ou oitos parecia tão comportado. Oito anos eu a via sorrir e chamar a sua mãe a todo instante, com pensamentos puros e maldades inocentes. E foi exatamente oito anos depois que a vi dentro do caixão de madeira. Agora inofensivo, como quando criança. Mas agora sem respirar.
Que sonhos teria? Pensava em dinheiro apenas? Ou pensava mesmo em poder? Teria culpa no destino que sua vida tomou? Enfim... Agora não importa mais.
Sua família chorava ao seu lado, com a certeza de que a falta de conselhos não foi o motivo de tamanha dor. Agora não causaria mal a ninguém. Agora se foi para sempre aquele garoto rebelde.
Os sonhos também se foram, sejam quais eles eram.
A certeza é que mesmo com nossos sonhos devemos cuidar.
O mais importante é sermos corretos e além de nós próprios, nossa família amar.
E a ninguém prejudicar.
Aquele garoto franzino, mesmo errando nos deu uma lição para em nossa conduta cuidar.
Tenta descansar em paz com um novo sonho. Deus te perdoar.

Todas as manhã sacio uma imaginação mais rigorosa que frio que corta meu rosto.
Um local exato. Um horário exato.
É quase certeza que vem, de mansinho como um gato que rodeia as penas da dona de casa enquanto faz o café.
Seu olhar hipnotiza não só os fracos, mas principalmente os fortes.
Sem notar que em sua frente há um escritor esfomeado por frases bem confeccionadas medindo cada detalhe dos seus movimentos, e assim consegue surpreender ainda com perfeição à expectativa das palavras que vão se fazendo a todo segundo dentro da minha cabeça.
Alisa seu cabelo tingido na intenção de aquietá-lo sem saber que mesmo despenteada sua beleza nunca mudaria.
Disfarça a cada olhar que fixam seu rosto ou seu corpo.
Corpo que parece ser desenhado à mão por grandes pintores, acentuadas curvas e perfeitas para qualquer estilo de vestimenta.
Apanha da sua companheira bolsa o fone de ouvido para ocupar sua mente com barulhos entoados.
O que deve ouvir? Algum locutor do seu gosto que fala a todo instante? Músicas quem sabe...
Sempre calada, típica curitibana.
Esses momentos são limitados, hora vai, hora vem!
E sei que um dia irá, e não voltará, assim como tudo na vida.
Não vi seu sorriso.
Não ouvi sua voz.
Mas caminha parecendo flutuar.
Seguido pelos olhos de quem gosta de mulher de verdade.
E arrasando corações de homens amadurecidos à amar.
Se cobrassem ingresso eu pagaria.
É um verdadeiro espetáculo.
O mais incrivel arrasado na forma simples de ser!

Postagens mais recentes Postagens mais antigas Página inicial