O Pobre Menino Rico

Esse curtíssimo conto foi escrito para incentivo pessoal duma pessoa que soube trilhar os meus caminhos.

A vida não é vivida se não for aproveitada a cada segundo, se não for colhido cada sorriso, se não guardarmos no coração cada frase.

A pessoa em questão, não só me fez ainda mais sorridente, como também sorriu mais para que cada dificuldade, cada ocorrido se tornasse menos grave e assim, construindo ponte sobre os abismos e diminuindo a velocidade a cada curva.

Quando sonho contigo, acordo disposto. Agora quero quem sabe um dia acordar contigo.

Um grande beijo Andry.

‘Amor não vai faltar’

Eu chorei. Chorei e continuo a chorar.

Ainda não sei bem o certo o propósito de uma mudança repentina na minha vida que queria ter certeza, na época, correr muito bem.

Ainda lembro daquelas linhas todas preenchidas pela letra perfeitamente legível da professora da terceira série.

Cada contorno daquelas caprichadas frases, cada curva foi compenetrando vagarosamente o meu coração duma forma inesperada, nunca imaginada, jamais idealizada.

Naquele momento eu passava a entender que além de todo o conhecimento que eu possuía algo dentro de mim também era forte, e o oposto do conhecimento, era algo horrível.

Senti-me naquele momento uma pessoa cruel.

Eu era horripilante.

Era tudo que eu menos queria naquele momento. Ser transferida para uma outra instituição de ensino.

A começar pelos professores inexperientes que seriam meus companheiros de trabalhos. Eu, uma veterana riquíssima em conhecimento que já havia palestrado em diversas faculdades de níveis altíssimo no país, ser “missionária” duma infelicidade. Revoltei-me.

Os rostos novos daquelas crianças todas sentadas sobre as carteiras já gastas e esfoladas me fizeram pensar em desistir, pareciam tristes e desconsoladas, mas eu tinha a plena certeza que naquele momento, eu sim era a única proprietária da maior tristeza.

- Bom dia crianças.

- Bom dia. – Responderam em coro.

Mais uma vez me perguntei sobre o momento em que presenciava. Quarta série do ensino fundamental era o fundo do poço, pensava indignada.

- Muito bem, eu sou a professora Eunice e estou aqui porque a partir de hoje serei a professora de vocês.

Todas permaneceram em silencio, como se estivessem esperando alguém que lhe fizessem sorrir. Aquelas crianças precisavam sorrir. Eu não sabia faze-las sorrir. Eu não queria fazê-las sorrir.

Apresentei-me formalmente assim como fazia nas outras escolas com alunos de maior idade. Disse o que passaria a eles e o que pretendia para o futuro das suas vidas.

- Estou aqui para que um de vocês seja meu médico quando eu estiver bem velhinha. Alguém se habilita? – Me esforçava a ser legal contra minha própria lei.

Percebi que devagar àquelas crianças foram sentindo-se mais a vontade. Percebi que muito além da minha má vontade de estar ali, a dificuldade apareceria com mais intensidade.

Minha vida solitária fazia-me prisioneira de mim mesmo, como se a solidão me aprisionasse fisicamente, enjaulando meu lado sensível, fazendo-me endurecer sem uma gota de esperança.

Como era estranho para as pessoas que me conheciam. Uma professora de trinta e seis anos que morava sozinha numa casa enorme, protegida por alarmes escandalosos e muros altos com cacos cortantes. Sem algo com vida para lhe fazer companhia, nem mesmo um cachorro para sua dependência. Eu negava para todos, mas algumas noites eu chorava amargamente. Mas pensava ser muito feliz.

Tudo parecia correr razoavelmente bem. As crianças obtinham sim uma mente muito aberta para novas informações. A capacidade de aprendizado era impressionante. Apesar do barulho infernal que me recebiam todos os dias.

Meu método rígido e implicante faziam com que parte delas pegassem medo das minhas falsas juras de advertência por atos irresponsáveis e de mínima relevância diante das doutrinas da escola.

- Mariana, eu já lhe disse que não precisa levantar da sua carteira para apontar o lápis. Aponte e deixe no cantinho da carteira e no final da aula joga no lixo!

Eu sabia que as crianças não gostavam de mim, e de certa maneira me sentia cheia de orgulho por ser famosa, mesmo que a fama fosse causa para que minha orelha esquerda ficasse vermelha.

Aquela ira devido a transferência de instituição foi sendo trabalhada por mim e a cada dia eu me acostumava mais com o ambiente mal cuidado. Por muitas vezes eu me sentia mal, a consciência pesava por pensar tão negativo sobre tudo que meus olhos contemplavam naquele ambiente. As pessoas todas que trabalhavam junto a mim vestiam-se de forma inadequada diante dos alunos, não por descuido nem mesmo por gosto, mas sim por necessidade.

Pessoas como a professora Tereza algumas vezes dava aula de chinelo de dedo, totalmente contrário dos modelos da professora Carmem que se dizia minha melhor amiga na faculdade onde eu lecionava. Todos aqueles costumes e etiqueta que tínhamos na faculdade foram sendo ignorados um a um, dia a dia naquele novo emprego. De inicio pensei ser relaxo, falta de comportamento, mas logo depois aprendi o que significa a palavra humildade.

Era o final do primeiro bimestre. Alunos aplicados e completamente disciplinados faziam total importância para cada palavra que eu pronunciava. Talvez fosse exatamente por isso que o estado se encarregou de me transferir para aquela escola num lugar tão diferente do que eu me acostumara.

É claro que eu também não era tão cruel na extrema realidade, mas meu sistema rígido e a qualidade das minhas explicações faziam total diferença no fator aprendizado. Já havia ganhado seis certificados de reconhecimento diante dos melhores professores do país. Alunos de diversos tempos ainda rasgavam elogios para seus amigos, familiares e conhecidos sobre minhas aulas.

Apesar de saber ser merecedora, eu me esforçava ainda mais, lecionar era a minha paixão. Com tantas qualidades, parei no pior sistema aprendizado da cidade. Estava aí o motivo da minha revolta. Tanta qualidade de ensino para depositar em crianças de dez anos. Indignava-me.

Diante duma turma de quarenta e três crianças, foi a primeira vez na história daquela instituição em que todos os alunos da classe saíram com notas azuis. Ou melhor, quase a classe toda foi com notas altas. Diante daqueles alunos eis Diego, o único com notas vermelhas, cinco notas vermelhas ao total. Em todas as disciplinas. Enfureci.

Diego era o aluno mais quietinho da sala. Não se interessava pelos estudos, pelos trabalhos que diariamente era passado para casa. Seus cadernos quase todas as folhas já começados a escrever e abandonado logo na terceira ou quarta linha. Dormia quase todas as aulas.

É claro que eu como sua responsável já havia percebido tal comportamento, mas diante das minhas promessas no inicio das minhas aulas, quando me apresentei, disse que não toleraria indisciplinas e que se precisassem da minha ajuda quem não fizesse por merecer, jamais eu os ajudaria. Joguei sob as costas daquelas pequenas crianças, responsabilidades de adultos. Responsabilidades que algumas mães criticaram, mas se conformaram diante do meu juramento de resultados satisfatórios.

Eu era autoridade maior dentro da sala de aula e também dentro da sala dos professores. Todos se curvavam diante de mim das minhas decisões, algo que eu na época me alimentava. Exatamente por isso que em momento algum fui questionado sobre o Diego. Eu era amarga e somente por isso adorava a rejeição e logo depois todas aquelas pessoas que me rejeitava se curvando diante de mim. Eu tinha o poder dum justo, mas era injusta.

Diego indiscutivelmente era o garoto mais pobre da classe, e juntamente com a unanimidade na pobreza vivia sempre sozinho. Enquanto os amigos se deliciavam em companhia de seus coleguinhas, Diego sempre na companhia da solidão com ar de tristeza. Como alguém que perdeu o sentido da vida.

Era indiscutível o seu potencial em relação aos estudos. Para quem nunca fazia nada durante a aula, seu desempenho nas provas bimestrais era magníficas. Suas vermelhas eram sem duvidas mais admiradas que muitas azuis suadas.

Preferi ficar apenas na espera do seu pedido de socorro que com certeza um dia viria.

A cada dia que passava eu conseguia ser ainda mais severa, impondo leis que eu mesmo criava nas horas de fúrias, nem eu estava me reconhecendo. Mais exigente que um chefe mal falado, mais cruel que uma carcereiro competente.

O segundo semestre foi ainda mais rigoroso. Sem dar folga. Hoje eu aqui pensando comigo mesmo, tento decifrar o porque desse comportamento com crianças tão amáveis? Eu sei, elas poderiam conseguir notas boas também se eu fosse ali uma professora sorridente e sempre feliz, que conduzia as aulas com facilidade. Mas não, meu sistema era bruto, cruel e sem peso na consciência.

Porem Diego continuava o menino rebelde em seus estudos. Sem conversa, mas sem atenção, sem bagunça, porem sem interesse. Dormia sempre no inicio das aulas e volta e meia acordava com meus berros. Também, como seria alguém sem interesse que participasse duma manhã com quatro horas de aula num silencio total? O remédio era dormir.

Assim, o segundo bimestre chegou ao fim. Impecavelmente todos os alunos conseguiram as notas ainda mais altas que o bimestre anterior, sem exceção. Somente o desinteressado garoto pobre que não quis saber de estudar e repetiu seu desempenho desastroso. Me desesperei. Não de preocupação, e sim de raiva. Diego estragava meu sucesso absoluto dentro daquela pequena classe. Eu não gostava nada disso.

Na minha casa a solidão tomava conta. Uma musica vezes ou outra me ajudava com o stress do dia a dia, a novela interessante que passava durante a noite me fazia viajar num mundo de mentira, mas algo dentro de mim me fazia sofrer. Torturava-me, como se eu fosse a única a não sorrir duma piada quando todos se desmancham em gargalhadas. Parecia que eu estava ocupando o lugar de alguém que precisava ser feliz, já que eu não me esforçava e continuava a ver tudo negativamente. Enfim, eu vivia numa incógnita interna.

Eu não tinha vontade de conhecer um homem e viver uma paixão. Sentia desejos como todas as mulheres comuns. Deliciava-me sozinha imaginando cenas ferventes dentro de mim, mas admitia-se como uma fraqueza que logo superava. Nós seres humanos somos frágeis demais.

E assim prosseguia a saga da dona do mundo, apenas do meu mundo.

Foi então que tentei incorporar em mim a vontade de ser compreensiva com alguém que aparentemente não queria compreensão. Levando a serio, tinha Diego como meu inimigo número um. O único que sem esforço algum fazia meus nervos aflorarem. Uma pobre criança de dez anos. Humilde e definitivamente fracassada criança. Quem era eu? Isso é que me pergunto todos os dias.

- Diego. Chamei você aqui para conversarmos um assunto que vem me preocupando muito.

Ele apenas assentiu com a cabeça parecendo preocupado.

- O que esta acontecendo com você querido? Todos os alunos da sua classe estão com notas ótimas e pretendem melhorar ainda mais. Vejo que todas as crianças costumam brincarem juntas, e você sempre separada delas. Tem algum motivo?

É lógico que era a primeira vez em que fazia aquele ato. Nunca precisei fazer com que um aluno levasse sermão sob minha matéria, e se precisasse eu não os daria, pois nada é mais incomodo para uma professora que ter que fazer a vez dos pais. Mas eu estava me saindo muito bem. Me surpreendi naquele momento. Não esperava ter dom pra paciência, muito menos pra amparo.

- Nada professora. Estou bem.

Insisti para que ele me dissesse algo mais complexo, mas nada o fez dizer. Foi naquele dia que percebi o garoto tímido e triste que Diego era. Senti-me incompetente por demorar meio ano para descobrir a verdade sobre um aluno.

Procurei então a direção da escola para entrar em contato com o responsável de Diego e marcar uma reunião com certa urgência e explicar tal comportamento. Assim foi feito, mas não cumprido.

Rosangela, madrasta do garoto não apareceu na reunião da quinta-feira que havíamos marcado. Pela primeira vez, verdadeiramente me preocupei. Percebi falta de interesse não somente do aluno, mas sim principalmente da família.

Durante as noites eu já não mais relaxava como antes. Na minha conturbada mente comecei a tentativa de adivinhar como foi que Diego chegou até a quarta série, ou, quem foi que o fez passar de ano. Não havia explicação alguma para o sucesso de ultrapassar por três series sem repetir em nenhuma sequer, mesmo que fosse as primeiras da vida dum aluno.

Eu já não tinha mais a cabeça vazia como antigamente. No silencio da minha casa enquanto me ensaboava no banheiro, ficava a lembrar todas aquelas tarefas não feitas por Diego, e, a cabeça baixa quando eu o advertia. Nenhuma resposta sequer, apenas o girar da cabeça para um lado e outro quando negava tal coisa, e assentia quando concordava.

Outros alunos já nem fingia desprezo, mas ele ali, em todas as aulas. Sem uma falta sequer. Sempre calado.

Como eu havia prometido no inicio do segundo bimestre, se as notas fossem melhores que o primeiro, inventariamos algo como um amigo secreto fora de época. Todos gostaram da idéia. Assim foi combinado.

Da professora severa que era, fui me tornando mais doce e sensível diante daquelas crianças. Ao contrario de outras épocas, comecei a me preocupar profundamente com todos. Estava numa fase de mudanças, mas não sabia.

O Diego já não merecia mais castigos e broncas como pensava antes. Agora na minha cabeça ele merecia atenção, amor, carinho. Mas intuição pura, pois devido a falta de tempo, ainda não tivera a oportunidade de verificar seu boletins dos anos anteriores. E assim foi passando.

Eu procurava incorporar mais aquele pequeno e calado garoto junto aos outros coleguinhas. Durante as aulas eu o chamava pelo nome e fazia responder uma ou outra pergunta sobre a matéria. Sempre distraído e inquieto pensava um pouco para responder, mas nunca errava. Eu fingia tranqüilidade e felicidade em suas respostas certeiras, e por dentro profundamente admirada com tamanha inteligência. Pois eu sei, ali em pé falando muito conseguia enxergar quem prestava atenção em minhas explicações. Mas nunca em momento algum Diego fixava os olhos em mim para acompanhar qualquer explicação que fosse, e qualquer pergunta, lá estava a resposta na ponta da língua. Ninguém percebia, mas era fabuloso.

O dia do amigo secreto fora de época chegou. No dia anterior pedi para a inspetora que me mostrasse todas as fixas cadastrais e históricos dos alunos da quarta séries. Rapidamente encontrei do garoto que estava vagarosamente me tirando o sono.

Sem tempo, abri a maquina de xérox e copiei todos os seus boletins anteriores, juntamente com as anotações que as professoras faziam sobre o desempenho individual de cada aluno.

Guardei na pasta e saí, ansiosa para poder conferir o mistério do sucesso dum garoto que nada fazia, mas em tudo respondia. Sem perceber agora posso dizer. Minha vida estava ficando cada vez mais importante. Diego era um adorável desafio para mim.

Cheguei em casa no fim da tarde com o coração na boca na ânsia do relato de suas antigas professoras. Estacionei o carro na garagem e após entrar no quarto, abri a pasta preta com certo afobamento, onde havia posto as informações e assim comecei a ler:

Resumo 1 Série

“Diego é um garoto maravilhoso e se destaca diante da turma com sua facilidade para aprender. Aplicado e determinado já comentou comigo que sonha um dia em ganhar muito dinheiro e ir morar num lugar muito bonito com sua mãe, onde ao menos não tenha ratos.

Diego é muito amoroso e carente. Acredito muito nesse menino. Espero que um dia ele se torne uma pessoa muito importante e que alcance tudo que sempre sonhar.

Professora Marli.”

As notas de Diego da primeira série eram maravilhosas. Todas as matérias com nota máxima sem exceção. Até ali eu continuava sem a resposta que eu queria. O motivo de tantas falhas na educação escolar daquele menino. Sim, eu sabia que sua família não era das melhores, e que essa razão pode ser uma desculpa muito bem aceita diante da vista de muitos. Principalmente professores e educadores.

Assim, ansiosa continuei a ler.

Resumo 2 série

“A professora Marli do primeiro ano já havia comentado sobre esse aluno. O encheu de elogios e disse que sem sombra de duvidas foi o melhor aluno que teve durante o ano todo. Fiquei feliz em saber que Diego seria meu aluno. Mas durante o ano Diego teve muitas dificuldades. Sua mãe é vitima duma doença muito grave e há algum tempo permanece hospitalizada. Diego todos os dias pedia para que eu convocasse a classe para rezar em prol da sua mãe. Suas notas ainda assim permaneceram ótimas, porém a tristeza era mesmo muito visível no seu comportamento. Com mérito Diego ainda conseguiu ficar dentre os melhores alunos da classe.

Continuo a rezar por sua mãe, e que logo ela se recupere.

Professora Ana Lúcia.”

Senti um calafrio dos pés a cabeça. Sem querer me culpar, me senti uma verdadeira alma desinteressada ao próximo. No relato a palavra doença. Lembrei do quanto sofri com meu passado.

Ansiosa, folheei o relatório com o desespero na garganta.

Resumo 3 série

“Gostaria de não ser eu nesse momento. Relatar mau comportamento e indisciplina do Diego seria um absurdo se alguém previsse anteriormente.

Apesar do estado de saúde péssimo da sua mãe, procurei sempre estar perto do garoto e convencer sua cabecinha da tamanha capacidade que ele tem (que não é nenhuma mentira), porém fiquei sem palavras após a morte da sua mãe na metade desse ano. O câncer tirou a vida duma mãe amada. Diego tornou-se outro menino. É compreensível.

Chorei como se tivesse perdido um filho. Minha alma ainda chora e pede ajuda ao Deus para socorrer Diego, pois a mãe era a única fonte de carinho que tinha.

Diego passou de ano.

Apesar da idade a vida já lhe deu algumas rasteiras.

Diego quer ser médico, para salvar vidas. Foi assim que disse quando perguntamos quais as profissões que pretendiam seguir.

- Quero ser médico para salvar pessoas doentes assim como minha mãe era!

Diego a cada dia me ensinou a viver.

Professora Ida.

Ao terminar a leitura, dos meus olhos jorravam lágrimas. Peguei-me diante de mim mesmo com o coração perto da boca meditando nas palavras das professoras anteriores. Envergonhei-me novamente. Motivo eu tinha de sobra.

Na minha cabeça nesse momento passava um filme da imaginação frutífera que me ocorria. O tamanho do sofrimento que uma criança tão frágil passou e ainda estava a passar. Como eu me sentia boba. Como naquele momento eu só sabia chorar.

Na sala de aula eu já o enxergava com outros olhos. Já sentia a tristeza como ele próprio sentia. Já o ensinava com mais carinho e dedicação. Já não o corrigia como antes. Já tolerava seus breves cochilos durante a aula.

No dia do amigo secreto fora de época fiquei a pensar o que seria de Diego. Por mais que fosse algo baratinho que fazíamos, ele não teria condição alguma de comprar qualquer coisa que fosse. Menino pobre, de favela imunda e perigosa. Local onde as pessoas davam o suor que tinha para por o que comer na mesa. Um verdadeiro local esquecido pelo governo.

Na revelação e entrega dos presentes fiquei na espera de Diego anunciar quem o tirou no pedaço de papel dobrado.

- Professora Dayse! – Anunciou timidamente estendendo aquele embrulho.

Naquele momento, todos os alunos da classe perversamente começaram a rir. Diego então ‘encolheu-se em seu próprio casulo’.

Enrolado num jornal desembrulhei seu humilde presente. Uma corrente com brilhantes de vidro faltando algumas pedrinhas, e um frasco de perfume pela metade. Naquele momento esqueci o equilíbrio, esqueci os risos. Chorei. Chorei copiosamente para o espanto de todos. Diego então retrai-se ainda mais. Estendi os braços para lhe dar um abraço. Naquele momento eu tremia. Meu coração batia forte no peito. Minha voz custou a sair.

- Diego querido! Obrigado pelo presente. – Recuperei pouco mais a pose. – É o melhor presente que já ganhei em toda a minha vida.

Todos os olhares curvaram-se a mim naquele dia. Lembro-me como hoje.

Foi assim que aprendi a viver. Foi aí que minha vida começou verdadeiramente.

Aquele dia considero-o como o mais importante da minha vida. Um divisor de águas. Diego prometeu se dedicar. E cumpriu. Ficou entre os melhores da classe.

Na minha vida também me comprometi a me dedicar mais com qualquer aluno que fosse.

Os anos passaram. Três anos depois recebi uma visita de Diego numa faculdade onde eu lecionava. Disse-me abertamente que sentia saudades e que eu havia sido sua melhor professora até ali.

Mais alguns anos, recebi uma carta dizendo que havia ganhado uma bolsa de estudos na faculdade federal.

Cinco anos depois uma nova carta. Diego me convidava para sua formatura.

‘Querida professora.

Venho através desse convite exigir a sua presença na minha formatura.

Hoje me sinto um verdadeiro herói, e você professora Dayse a minha inspiração.’

Pela minha cabeça passou toda a incrível história do meu inesquecível aluno pobre, que fez de mim um ser humano capaz de amar.

Na última linha daquela carta ele dizia.

”..professora Dayse, eu te amo”.

Respondia em voz alta e emocionada.

- Também te amo, querido!

De tantas formaturas já protagonizadas, aquela eu era apenas uma convidada, mas sabia que anonimamente era minha maior participação na vida dum aluno.

Além de ensinar, eu aprendi. Foi minha maior conquista com toda a certeza.

Doutor Diego, era assim que deveríamos chamá-lo agora.

Os anos não esperam e a velhice chegou. As dores naturais causadas pelo tempo foram se aproximando.

Um terrível diagnóstico acusou um grave problema no meu coração, que antes duro, e depois da humilde escola dum bairro pobre, totalmente mole.

Meu coração ficou mais fraco depois da morte do meu marido.

Fui encaminhada para uma clínica especializada para tratar-me com o melhor medico do hospital.

Minha esperança era minúscula. Apenas me preparava para morrer.

O hospital era luxuoso e muito caro. Onde existem os melhores médicos do país.

Minhas pernas ficaram trêmulas como uma vara ainda verde. Na sala de espera, uma voz suave e muito firme ecoou, vi um braço com as mão estendida para mim.

- Boa tarde dona Dayse.

- Boa tarde! – Respondi ainda com a cabeça baixa, com certa dificuldade para movimentar-me devido a invalidez.

- Eu sou o cardiologista Diego Torsonto e vou cuidar da senhora.

Quase meu fraco coração para de vez, mas sorri.

Diego me abraçou apertado, e disse com a voz embargada.

- Professora! Lembra no seu primeiro dia de aula, na quarta-série quando intimou à classe toda dizendo que queria um medico para cuidar de você quando ficasse velhinha?

Assenti com a cabeça e as lágrimas riscando o rosto.

- Eu não disse em voz alta, mas aceitei o desafio no meu coração. – Limpou o rosto molhando com as pontas do dedo indicador e continuou.

- Professora, eu lhe garanto, do coração a senhora não morre.

Fim

Sonhos sombrios

Os sonhos nada mais é que nossa fiel esperança de alcançar ao auge do nosso prazer.
Muitas vezes inalcançáveis, mas mesmo que somos cientes dos nossos limites, ainda teimamos em sonhar imaginando como seria se tudo fosse mais fácil. A vida passa e logo vem à morte, a tão temida morte.
Todos têm desejos a conseguir, sonhos a realizar. Até mesmo as mais frias mentes perversas, talvez seja as que mais vagam na imensidão dos desejos impossíveis.
Estava lá um garoto que conheci há muitos anos, quando nós dois eram mesmo crianças de jogar bafo de figurinhas, deitado sobre o chão gelado duma noite fria, e como a noite seu corpo também estava gelado e sem pulsação. Foram dos balaços no peito que causou todo aquele furor. Duas frias balas recheadas de pólvoras que invadiram sua pele atingindo o lado esquerdo do seu peito sem chance de sobrevivência. Seu corpo frágil e franzino não era inatingível como talvez pensasse quando estava no auto da sua negra carreira vendendo substancias ilegais. Substancias essas que causava dor e sofrimento para seus usuários.
Sofrimento a uma criança de três anos que por conseqüências da sua indisciplinada mãe, sofrendo uma enorme covardia levando um tiro em sua cabecinha. Três anos de idade, indefeso e mal sabia expressar os seus sentimentos. Pouco mais que mil dias vividos apenas. Salva por um milagre, um milagre DIVINO. Levando em consideração que a bala atravessou seu crânio se alojando pouco acima da nuca, foi realmente um milagre.
Ocorrido amedrontou muitos curitibanos. Era mais um nome que ficava famoso pela sua frieza em relação à vida, em relação aos seus semelhantes, na busca de poder. Seria esse o sonho daquele garoto que conheci ainda quando menino? Poder?
Aquele garotinho franzino passou a espantar muitos moradores do pacato bairro onde morávamos, ficou afamado, assim como todos os antecessores que entraram para o tráfico, afim de dinheiro fácil.
E como seus antecessores, mas desta vez vi com meus próprios olhos. Primeiro no chão frio duma rua sem saída, e no dia seguinte, dentro do caixão.
Estava lá de terno e gravata. Imóvel.
Suas narinas já não precisava mais buscar o ar. Seus olhos não precisava mais abrir. Seu cérebro estava morte e não precisava mais sonhar.
Lá se foi aquele garoto miúdo que quando tinha seus sete ou oitos parecia tão comportado. Oito anos eu a via sorrir e chamar a sua mãe a todo instante, com pensamentos puros e maldades inocentes. E foi exatamente oito anos depois que a vi dentro do caixão de madeira. Agora inofensivo, como quando criança. Mas agora sem respirar.
Que sonhos teria? Pensava em dinheiro apenas? Ou pensava mesmo em poder? Teria culpa no destino que sua vida tomou? Enfim... Agora não importa mais.
Sua família chorava ao seu lado, com a certeza de que a falta de conselhos não foi o motivo de tamanha dor. Agora não causaria mal a ninguém. Agora se foi para sempre aquele garoto rebelde.
Os sonhos também se foram, sejam quais eles eram.
A certeza é que mesmo com nossos sonhos devemos cuidar.
O mais importante é sermos corretos e além de nós próprios, nossa família amar.
E a ninguém prejudicar.
Aquele garoto franzino, mesmo errando nos deu uma lição para em nossa conduta cuidar.
Tenta descansar em paz com um novo sonho. Deus te perdoar.

Todas as manhã sacio uma imaginação mais rigorosa que frio que corta meu rosto.
Um local exato. Um horário exato.
É quase certeza que vem, de mansinho como um gato que rodeia as penas da dona de casa enquanto faz o café.
Seu olhar hipnotiza não só os fracos, mas principalmente os fortes.
Sem notar que em sua frente há um escritor esfomeado por frases bem confeccionadas medindo cada detalhe dos seus movimentos, e assim consegue surpreender ainda com perfeição à expectativa das palavras que vão se fazendo a todo segundo dentro da minha cabeça.
Alisa seu cabelo tingido na intenção de aquietá-lo sem saber que mesmo despenteada sua beleza nunca mudaria.
Disfarça a cada olhar que fixam seu rosto ou seu corpo.
Corpo que parece ser desenhado à mão por grandes pintores, acentuadas curvas e perfeitas para qualquer estilo de vestimenta.
Apanha da sua companheira bolsa o fone de ouvido para ocupar sua mente com barulhos entoados.
O que deve ouvir? Algum locutor do seu gosto que fala a todo instante? Músicas quem sabe...
Sempre calada, típica curitibana.
Esses momentos são limitados, hora vai, hora vem!
E sei que um dia irá, e não voltará, assim como tudo na vida.
Não vi seu sorriso.
Não ouvi sua voz.
Mas caminha parecendo flutuar.
Seguido pelos olhos de quem gosta de mulher de verdade.
E arrasando corações de homens amadurecidos à amar.
Se cobrassem ingresso eu pagaria.
É um verdadeiro espetáculo.
O mais incrivel arrasado na forma simples de ser!


Um dia
Quando estiver frio e escuro
Quando meus olhos não enxergar à um palmo
E quando minha pele gelar
Recorrerei a você

Com seu meigo fascínio
Com sua presença e minha mente
Me aquecerá do inverno
Da sombra quem me segue
E me deixa assim

Você é adorável
Com seu olhar aconchegante
E suas bochechas tão sensíveis e macias
Desde que a conheci
Não há nada mais importante
Que amar você

Sorria meu amor
Acaricie meus cabelos
Beije minha alma com os lábios do amor

Como você está essa noite?
Sentes saudades?
Saudades de Mim?
Então venha
Não existe nada mais importante
Desde o dia em que a conheci
Que amar você
Amar você

Com seu beijo me acolha
Nos braços do teu silêncio
Sinta meu peito pulsar
Estou pronto
Sinto-me alegre
Mas quando minha pele gelar
E meu caminho escurecer
Recorrerei a você
Porque
Desde que a conheci
Não há nada mais importante
Que amar você

A Vida


Muitas vezes temos a certeza que não vamos vencer. Tudo se torna cada vez mais difícil, e em certas situações até dizemos que “o mundo caiu sobre nossas cabeças”. Ah! Banal não é mesmo? Quem somos nós para discernirmos quando é a situação não tem mais solução?
Lamentamos, choramos e concluímos que não estamos sendo abençoados. Que todas as coisas boas que fizemos é em vão, e que nada adiantar andarmos e sermos corretos.
A dor interior, a ansiedade que parece nunca chegar. A incredulidade vai crescendo duma forma tal que tantas coisas boas acontecem e a obcecação que temos por tal coisa que lamentamos muito nos cegam. Nos faz escravos por pensamentos e atos vaidosos. Mas aí o tempo passa, e de repente esquecemos de tudo.
Aquela dor fica. As lamentações são vencidas pela vida e tudo quanto fizemos parece agora nos alegrar.
As novidades que o destino nos trás nos deixa completamente satisfeitos, nos ensinando que tudo tem o seu tempo, assim como nossos amigos nos dizem quando estamos mal, mas insistimos em ignorar.
Aí pronto. Vida nova, tudo novo. Até parece que esquecemos do que aconteceu. Toda a amargura dentro do peito, a angustia, as decepções que se acumularam nem parecem que existiram. É como recomeçar a vida do zero.
Conhecemos pessoas, reencontramos amigos de longas datas que se perderam pela linha do tempo, e é tudo novo de novo. São novas lutas, novas dificuldades, novos caminhos a trafegar, enfim, realmente tudo muito novo.
Mas de repente essa nova vida nos pega de surpresa porque mais uma vez cometemos o erro de nos distrair. E bum!! Um novo desespero nos surpreende. Mais algumas decepções para pensarmos que a vida não tem mais sentido. E... Quantas vezes isso acontece durante a nossa vida? Duas, ou talvez três? Não! Muito mais. Inúmeras vezes. Mas... Todas elas conseguem nos derrubar, aí o tempo passa e tudo é superado.
A impressão que tenho é que quanto mais vivemos, mais leigos ficamos.
A vida é um circulo imprevisível. Mas a verdade é que se não tivesses provações, se driblássemos todas as desavenças, seríamos monótonos.
É muito bonito quando na nossa partida, nossos amigos comentarem: - Esse nos ensinou a grandeza da vida vencendo depois de tudo que passou.
O importante não é apenas viver. É viver e fazer a diferença.

A incerteza mais certa


Elegância meiga
Transparência cristalina
Vou ser feliz por toda vida
Ou vou chorar rios de lágrimas por essa menina

Sorriso bonito
Olhar de diamante
Depois do sábado gelado
Não consigo esquecê-la por nenhum instante

Me faz sorrir quando estou triste
Me deixa triste quando estou a sorrir
Me enforca de angústia à esperar
Me fazendo ansioso como uma criança
Me deixa à mercê da esperança
Me carregando de forças
Para um sonho buscar

Ainda não sei se me faz bem
Mas seu lado ruim é desconhecido
Debaixo de tanta harmonia em sua feminilidade
Se o lado sombrio for um desafinado cântico
Sua delicadeza o deixa até romântico
Esse dote me sustém

Olhei para lua e perguntei se a terei
A resposta foi o silencio
Então assim tive a certeza
Que na hora certa saberei
Que essa garota sim é o amor da minha vida
Aquele que sempre sonhei

Jack Leinz

Um anjo



Hoje eu vi um anjo.
Era belo, formoso e tinha palavras suaves.
A sua voz era como canto para meus ouvidos.
O seu perfume me trazia uma emoção a mais do que sentia.
O primeiro contato foi um sorriso.
O sorriso mais lindo do mundo.
Eu perguntei como estava e como esperava, ouvi que esta bem.
Eu sabia que por mais que estivesse com algum problema, afirmaria que estava bem.
Anjos também passam por provações.
Seus olhos brilhavam.
Encantei-me.
Suas palavras eram simples e objetiva.
Dizia o suficiente para me deixar leve.
Até mesmo o seu silencio era doce.
Eu falei sobre minha vida, minhas atividades, mas tudo que eu mais queria era ouvir mais e mais o que tinha a dizer.
Sentamos um ao lado do outro.
Peguei sua mão fria que logo ficou quente.
Eu não conseguia parar de olhar para seu lindo rosto.
Seus lábios eram sedutores.
Meus dedos entrelaçaram-se nos dele.
Meu coração bateu mais forte.
E meus olhos voltavam àquele rosto bonito.
Tudo ao redor perdeu o sentido.
Ficamos ali um ao lado do outro, sentados.
Meus desejos por algumas vezes ignorava o fato de estar de frente a um anjo.
A carne é fraca.
Eu o beijei.
Uma mágica sensação me invadiu afetuosamente.
Foi o melhor beijo que já provei.
Era celestial.
Agora estou aqui.
Torcendo para que ele volte.
Não sei o que vai acontecer.
Não sei como fazer acontecer.
Mas se essa sensação nunca mais se repetir.
Se esse olhar de paz e encantador nunca mais me mirar.
Na minha memória sempre vou lembrar.
Foi num sábado gelado.
Um anjo eu beijei.

Compreendi que...

Compreendi que na vida tudo tem um certo significado.
Compreendi que aprender com os erros dos outros é mais fácil que errarmos por iniciativa própria.
Compreendi que é mais fácil caminhar sozinho que levar de companhia alguém negativo.
Compreendi que ouvir uma música que marcou agrada os nossos ouvidos e sangra o nosso coração.
Compreendi que o importante não é o presente que ganhamos que nos satisfaz, e sim a sinceridade do sorriso.
Compreendi que é mais fácil fugir do problema que enfrenta-lo, mas desse modo eu acumulo ao invés de resolvê-los.
Compreendi que se eu tivesse tudo que desejo eu seria mais insatisfeito do que sou desejando tudo que não tenho.
Compreendi que se eu fosse um pássaro eu queria ser um macaco, se eu fosse um macaco queria ser um leopardo, enfim, nunca estaremos satisfeitos.
Compreendi que na amizade não importa a quantidade e sim a qualidade.
Compreendi a importância do livre arbítrio sob nossas vidas, ele nos dá o direito de escolhermos o caminho a seguir nos deixando cientes do peso do erro.
Compreendi que o mundo está cada vez mais perto do fim.
Compreendi que perder um grande amor não significa a morte, mas a morte significa perder um grande amor.
Compreendi que o verdadeiro amor só se manifesta com o passar do tempo.
Compreendi que após o amor manifesta-lo, raramente conseguimos resgata-lo novamente.
Compreendi que além de compreender devo entender.
Entendi que compreender com certeza já é o começo para aprender viver.
Conscientizei-me que na minha velhice minha simples obrigação é entender o que nessas duas décadas ja vividas aprendi apenas a compreender.

Eu não quero ser herói


Eu não suporto sofrer, viver jogado à mercê das emoções. Eu sou fraco, não sou herói.
Nasci como um ser qualquer, com dívidas à pagar. Acumulei amigos, e mesmo que sem querer alimentei inimigos. Eu tento ser o melhor que posso. Mas a vida é cruel. Não sou assim tão ingênuo como a vida pensa de mim, não sou.
Acordei hoje para lutar contra as piores conseqüências que eu já pude ganhar, aquelas que sofri quando caminhava por outros caminhos. Aquelas que me fizeram feridas em minha pele. Agora não, ninguém pode me abater.
Olhem para mim. Não cuspi na cara do meu irmão, nem mesmo fui motivo de lágrimas da minha mãe. Eu sei, quantas vezes errei. Mas agora eu estou caminhando, a procura da melhor parte de mim.
Eu não sou herói.
Olhem para mim. Não tenho poderes originais, nem mesmo me imaginei voar. Sou um homem qualquer que enfrenta a tristeza para ganhar o sorriso. Que luta a cada dia com um inimigo diferente para ser merecedor de dormir, para noutro dia acordar para uma nova batalha. Eu respiro ar puro porque Deus é de misericórdia.
Olhem para mim. Sou apenas um rosto manchado, com lágrimas marcadas pela face.
Olhem para mim, eu já sofri. Não sou herói.
Mesmo que fosse. Heróis também fracassam.
Não é fácil ter feridas abertas, amores mal vividos, e esperanças em preto e branco.
Eu nunca quis ser um herói, minha é vida é complicada. Eu choraria lágrimas de ferro. Desfaleceria ao chão sob olhares de pena e aplausos de vingança. Seria constrangedor. Eu não agüentaria. Teria que inventar mentiras ainda mais do que preciso. Proteger meu coração das flechas do cupido. Dormir com os olhos abertos para cuidar de meus inimigos.
Eu já tive inimigos, mas com certeza não gostei. Eu não quero ser um herói. Então não me olhem como herói.
Eu quero apenas ser eu. Ainda, mesmo sendo eu, não é fácil ser eu.
Como é ignorante esse mundo de injustiça.
Como queima esse mundo de dor.
Além de ser eu, não quero ser um herói. Mesmo que fosse, os heróis também fracassam. Os heróis também tem o direito de sangrar. Principalmente por amor.
Heróis também amam. Parece confuso, com tantos poderes interessantes, com dons e habilidades invejadas, eles também sofrem, sofrem por amor.
Parece confuso, eu não quero admitir. Mas eu falo sério. Não quero ser um herói. Não me olhe como um.
Os heróis tem que vencer o mundo. Vencer todos. E ainda tem sonhos. Heróis também tem o direito de sonhar.
Eu não sou herói.
Eu amo, eu luto, eu corro, eu sonho. Eu sangro.
Eu pareço um herói. Mas não me deixem confuso. Eu não quero ser um herói.
Mesmo que as vezes estou com o coração sangrando como eles.
Eu não quero ser herói.

(???) Destino...


Com um pé no sucesso e outro no fracasso. A vida anda mesmo sem cor, perdendo a razão a cada dia.
Ontem eu era admirado e hoje sou motivo de “coitado”. Porque a vida tende a dar tantas voltas? Porque não rumamos um destino no qual poderemos trafegar a vida toda? Seria tão difícil assim para o destino nos reservar algo que nos agrade? Afinal, com que mesmo estou aqui questionando? Com o abstrato destino? Ele não tem ouvidos. Caramba!
Você tem ouvidos destino? Ou melhor, você existe destino? Porque se temos livre arbitre o destino não pode intervir, somos feitos e guiados por nossas decisões, não é isso que quer dizer, então EU NÃO ESCOLHI ESTAR AQUI, e estou, foi você destino? O terror da humanidade, bom pra uns e más para outros, é assim que você leva sua conduta. Então, algum dia me beneficiará com suas escolhas “querido destino”. Afinal, você destino, é mesmo relacionado ao bom Criador? Responda!
Sabe; fui abandonado, e estou prestes a ser sacrificado pela vida, não sou eu que a quero tirar de mim, ela é que vai me excluir de seu ciclo.
Se eu pudesse materializar a tristeza que esta dentro de mim agora, eu construiria uma cena desastrosa, talvez alguém num quarto escuro, lá em cima uma janelinha pequena e quadrada permitia invadir um fecho da luz do luar minguante.
O que é felicidade? Eu preciso saber o que é felicidade?
Cada um tem a sua felicidade a atingir ou o nível é geral, mas nem todos chegam lá? E o que é tristeza? Eu gostaria tanto duma resposta destino...
Quem é mais infeliz? Quem perde alguém, cuja pessoa se foi cheio de orgulho e com sentimento de missão cumprida, ou ter todos ao seu redor e nenhum deles sentir orgulho, uma só pontinha de orgulho. Hein? Há resposta?
Talvez uma pergunta que tem o mesmo sentido, mas de outra forma para você entender, destino.
Qual é mais sofrido, ser desejado e não poder viver os momentos, ou ser abandonado por alguém que faz parte do seu dia-a-dia? Hum, acho que o abandono é mais sofrido não é? Ou será a outra opção?
Quantas perguntas não é mesmo destino? Ou será que... Estou perdendo meu tempo ao lhe perguntar isso?
E não venha com esse papo de dizer que eu fiz as escolhas erradas porque não fiz não. Ninguém no mundo é louco de escolher a infelicidade. Nem mesmo eu.
Destino se consegue me entender, diga-me e tire a mão que aperta meu pescoço e que está me matando lentamente. Quando a parte boa da minha vida chegará.
Destino, onde daqui a algum tempo estarei?
Destino, quem sou eu?

Vem


Incógnitas



Quais as coisas reais da vida que realmente nos deixam felizes. Por favor! Ajude-me a descobrir porque me sinto um herói com a espada desembainhada, ao meu redor corpos estendidos sem vida, e o coração vazio, tão só como a mar no inverno.
Outras épocas me sinto um dos corpos estendidos ao chão, ainda pior, protagonizando a derrota.
Porque nada em nossa vida é suficiente para vivermos? É natural de nós, seres humanos, mas, alguém me explique por favor? Porque existem tantas incógnitas ao nosso redor?
Existem vidas em outros mundos? Ou melhor, existem por aí mundos que não conhecemos?
Do que é feito o sol? É muito quente por quê? E as estrelas? Essas luzes no infinito. Porque tantas pistas, mas nada de concreto? Somos obrigado a viver num mundo que só nos deixa pistas? Pistas e mais nada?
Como é criado vida dentro dum ventre? Os ossos são formados lá dentro, mesmo que, frágeis, mas... São ossos.
Quem inventou o amor? Existe uma fórmula? Ou talvez um manual de instruções, mesmo que seja em outra língua, eu o traduzo, não tem problema. Mas dei-me, por favor, uma esperança de viver a vida com mais sentido.
Deus conceda a mim as respostas dessas perguntas. Por favor. Lembro-me que ontem mesmo eu estava todo feliz, acordei feliz, o dia estava lindo, e já a tarde não podia mais ver ninguém, falar com ninguém. Por quê? Se eu não quero ser assim.
Os meus amigos Deus. Como tem sido falsos comigo, será que são como eu? Muda de humor a cada tempo? Ou porque simplesmente aturam a minha presença? Sou chato?
Como é ser interessante para alguém? Tenho a plena certeza que ser interessante não é o mesmo que ser útil.
Sinto-me sozinho como o herói do coração vazio.
Naquele momento em que o herói caiu em si ele com certeza pensou que deveria deixar ao menos um dos seus inimigos com vida para poder conversar, quem sabe deixar a inimizade de lado e gostarem um do outro.
O que é um herói sozinho? Ou seja... O que somos de bom se não temos alguém? Então... Se nascemos sozinhos e devemos ter as nossas próprias decisões para a nossa vida. Porque dependemos tantos de terceiros? Porque é tão importante que devemos ter alguém.
Deus, alguém algum dia encontrou o caminho da verdadeira felicidade? Alguém algum dia foi feliz durante a vida toda?
Deus, quem sou eu?

Como um sonho de garoto


Desde quando a vi
Perdida naquela multidão
Encontrei um modo fácil de ver a vida
Encontrei a paz para falar com o coração

Aproximei do seu olhar
Que me deixava quase louco
E encontrei o seu amor
Atordoando-me mais um pouco

Um pouco da minha riqueza
Se fez perder naquele dia
Naquele abraço e aquele beijo
Que acabou com minha vida

Então chorei sozinho
Todas as noites seu pudor
Com esperança e magia
Como um sonho de garoto
Fazemos amor

Naquela tarde de domingo
A encontrei no pôr do sol
E descobri que havia sepultado
O sofrimento que me sangrou

Te falei dos meus desejos
Do instantâneo amor
Dos planos que havia feito

São primícias verdadeiras
Que machucou meu coração
Mas agora é felicidade
Após a sua separação

Com uma só voz amiga
Confessei o meu amor
E para minha delícia
Provei seu beijo

Então chorei sozinho
Todas as noites seu pudor
Com esperança e magia
Como um sonho de garoto
Fazemos amor

Mamãe



Agora entendo o porquê de tanta dor e tanta teimosia das lágrimas escorrerem pelos rostos de quem perde alguém especial. Eu falo de quem perde sua mamãe!
Desesperei-me; foi terrivelmente penetrante a dor da saudade que invadiu o meu espaço e parecia que nada mais tinha sentido, a angustia ao meio da saudade, a necessidade da presença da minha mamãe era tão grande que eu não conseguia dormir, comer!
Olhava para geladeira e nada mais estava igual desde que ela se foi, por mais que eu mantivesse a ordem dentro de casa nada mais era igual. A cozinha estava faltando o seu toque, aquela saborosa comida feitas pelas mãos mais meigas e perfeita do mundo não podia mais ser degustada, porque ela tinha ido.
Assim que se foi pensei comigo mesmo, tentando ser o mais forte possível consolando-me. Tantas pessoas no mundo vivem sem a mãe, algumas desde tão pequena, outras nem sequer conhecem a própria mãe, e vivem bem porque eu não viverei? Pensei assim consolando-me com sua partida, mas, engano meu, a partir do segundo ou terceiro dia tudo ficou ainda mais complicado, a saudade era tamanha, o desejo de trazê-la junto a mim, a fragilidade que eu não via em mim agora começou, apresentava constantemente, sua lembrança percorria por todas as partes do meu pensamento, mesmo que eu não quisesse, era incontrolável.
O final de semana chegou e tudo estava a mesma coisa desde quando ela se foi, nada havia sido alterado, a verdade é que tentei substituí-la nos afazeres, no capricho mas, nada de sucesso, a casa era seu reinado, agora sei, aqui ela era perfeita. Os carinhos, como eu sentia tanta falta da sua mão macia como um pêssego alisando meus cabelos, aqueles braços acolhedores envolvendo-me quando eu precisava me sentir protegido, uma leoa ao me defender, um beija-flor ao me acariciar, indiscutivelmente a mulher da minha vida.
Como sua falta me fazia sofrer, como tudo era chato, até as suas broncas agora me trazia risos entre lágrimas de saudade, como eu naqueles momentos percebia o quanto ela era importante. Ah mamãe! Como me faz falta.
O final de semana foi o mais monótono que já tive. Algumas vezes briguei com meus amiguinhos quando criança e passei o fim de semana em casa sem brincar, achei que aquele foi o final de semana mais chato. Na adolescência por varias vezes fiquei em casa no sábado e domingo porque havia brigado com a namorada, também pensei que havia sido o mais chato da minha vida, mas não, agora sei mamãe o quanto a sua presença preenche meus dias, o quanto é importante lhe dar bom dia ao acordar, um beijo em seu rosto e dizer: - Mamãe, eu te amo!
O que fazer sem você aqui comigo mamãe? Era essa a pergunta que sintonizava meu consciente a cada dificuldade que encontrava. Foi uma viagem de apenas duas semanas que esteve longe mamãe, como sofri. Agora penso... E quando Deus a levar mamãe, o que vai ser de mim?

Ame sua mãe.
Como ela muitas vezes parece que não sabe nada e é insignificante. Quantas vezes você a respondeu em tom ameaçador? Corrija seus atos, aprenda a dar valor àquela que te deu a vida, amor, carinho.
Alguma vez a amaldiçoou?
Reveja seus atos, quando ela se for será tarde para amá-la.
Quer ser feliz por completo pela vida toda?
Ame sua mãe.

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